O dia de hoje correu melhor que o de ontem. Também o que seria de esperar depois de ter partilhado a minha orientação sexual. Como que ando mais leve! Mas sinto – me muito bem por ter partilhado isso e por já poder falar abertamente sobre a homossexualidade com alguém. Agora já não sinto tanto (ou já não ligo tanto) os olhares das pessoas, os comentários, etc. Tenho tido um grande apoio da minha M.A.D.S (melhor amiga de sempre) e uma grande ajuda com os testemunhos do livro “Partilha’te”. Agora que penso acho que eu já era homossexual desde a escola primária, quando andava no terceiro ano. Pois nessa altura, escondidos de todos, eu e um amigo meu brincava – mos a umas brincadeiras um pouco estranhas, mas que eu gostava. O jogo chamava – se: “Ninguém nos pode ver - secreto” e consistia em que o meu amigo me desse castigos. Mas esses castigos eram especiais. Jogávamos num quarto (ás escuras, ele tinha uma lanternazinha), no sótão da casa dele e os castigos eram mostrar a “pilinha”, despir todo… Ou então jogávamos aos médicos, em que ele era o médico e eu o doente e as minhas doenças tinham sempre a ver com dores ao pé da “pilinha” (sempre ás escuras). Até no sótão da minha casa brincávamos, mas ele era sempre o controlador (se bem que eu dizia que era a minha vez), mas eu não me importava! Eu gostava. Juntaram – se mais dois outros amigos mas ele era sempre o controlador. E até atrás do palco de festas (em tijolo) da nossa aldeia brincávamos aos castigos desse género, mas é claro que eu preferia fazer os castigos do que ordená-los. Preferia ser o submisso. Acho que devia ter percebido aí, mas eu era pequeno e não sabia (de certa maneira) o que estava a fazer. A minha mãe descobriu uma vez, mas não parámos de o fazer, apenas passámos só a “jogar” na casa dele. Não sei se, de certa forma, foi ele e este “jogo” que me tornaram homossexual ou se eu, eventualmente, estava destinado a sê – lo. Voltando ao dia de hoje, ainda não deixo de pensar no momento em partilhei o peso do mundo com alguém. Não me sai da cabeça o momento em que escrevi no MSN: “eu sou gay”. Não me sai da cabeça, claro que antes a avisei para ter cuidado, não contar a ninguém e a pedir desculpa, pois nós tivemos um namorozinho. Dantes escrevia com raiva da sociedade preconceituosa ou com urgente necessidade de desabafar. Hoje escrevo serenamente, como se me sentisse flutuar.
0 Palavra(s) de Apoio:
Enviar um comentário